Consideremos o jardim,
mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas,
dedos, línguas, sementes.
Sequências de
convergências e divergências,
ordem e dispersões,
transparência de estruturas,
pausas de areia e de água,
fábulas minúsculas.
Geometria que respira
errante e ritmada,
varandas verdes, direcções
de primavera,
ramos em que se regressa
ao espaço azul,
curvas vagarosas,
pulsações de uma ordem
composta pelo vento em
sinuosas palmas.
Um murmúrio de omissões,
um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz
silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na
felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes
meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se
renova a luz.
António Ramos Rosa
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