
As cores, Deus as inventou quando menino, por certo. E brincava com elas
com a mesma paixão e sem cerimônia de quem, um dia, ainda faria tudo o
que existe.
Misturando umas às outras e esparramando-as pelo firmamento, punha-se a
imaginar planícies e bichos, montanhas e mar, passarinhos e canções,
poentes e pirulitos.
Às vezes, quando não saia a correr com as luzes pelo infinito, passava
manhãs inteiras, fechado, em silêncio, em seu universo, a encher-se de
luz, a cada nova cor que descobria.
Ora lhe pareciam solenes como deveriam ser as florestas, ora preciosas como desejava pérolas e joaninhas.

Mas o que mais o encantava nas cores era o fato de serem cores
simplesmente e, todavia, brincarem com seus olhos, darem asas a seus
sonhos e povoarem sua alma de sentimentos.
Se um dia criasse o mundo, ele pensava, haveria de dar-lhe cores.
E se houvessem pessoas nesse mundo, haveria de dar a elas a capacidade
de perceberem, nas cores, a mesma magia que ele testemunhava.
Percebê-las significaria terem as cores dentro delas: almas coloridas,
corações de aquarela. Assim saberiam reconhecer na própria vida toda
maravilha que ela encerra.

Outra vez, como num sonho, teve uma visão de arco-íris.
As próprias pessoas teriam o dom de serem cores. E de alegrarem-se umas
às outras, de encantarem-se umas às outras, de amarem-se em gestos de
luz. A felicidade seria a tradução desse desejo.
Ah como ele gostaria de ver, um dia, todas as pessoas felizes. Haveria
cor em profusão, luzes em toda a terra, nunca mais a escuridão.
Assim seja menino
Texto: José Oliva - Caixinhas de Atitude

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