21/01/2018

Esta Vida é um Corridinho - Poema de João Villaret




A vida é um corridinho,
Corre, corre, sem parar,
Desde que um homem vem ao mundo
Até que vai a enterrar.
Nasce a gente e de repente,
Corre este risco sem par,
De morrer logo à nascença
Ou de ter que cá ficar.


Corre, corre, corridinho,
Corre, a vida sem parar.





Em miúdo corre e chora
Prá mãe lhe dar de mamar
Depois pula, rasga e estraga,
Pelos jardins a brincar.
Corre depois para a escola,
Corre aos livros pra estudar,
Corre depois na parada,
Quando vai pra militar.



Corre, corre, corridinho,
Corre, a vida sem parar.





Corre o tempo e volta à terra,
Com ideias de casar.
Corre logo ao bailarico,
Corre à procura dum par.
Correm banhos na igreja.
Corre a nova no lugar,
Té que um dia mai-la noiva,
Correm ambos pró altar.



Corre, corre, corridinho,
Corre, a vida sem parar.





Correm dias bem felizes,
Correm horas de bem-estar,
Pois num berço pequenino,
Está um bebé a chorar.
Mas passados anos correm
dez pimpolhos no seu lar
Corre-lhe o suor em bica,
Pra família sustentar.



Corre, corre, corridinho.
Corre, a vida sem parar.


Corre aqui, pede acolá,
Corre ao prego pra pagar
ao padeiro, ao merceeiro,
pra vestir e pra calçar.
Corre um mês e outro mês,
E ele, aflito, pra arranjar,
com que pague a casa, a luz
e ao doutor que o vai tratar.




Corre, corre, corridinho,
Corre, a vida sem parar.


 


Já cansado de correr,
Certo dia, ao levantar,
Corre-lhe um frio plo espinhaço,
Corre à cama e dá-lhe um ar.
Corre o pranto na família,
Corre a gentinha a espreitar.
A correr vem um anjinho
que logo o leva plo ar.



Corridinho, corridinho,
Lá vai ele a aboar.
Corridinho, corridinho,
Lá vai ele a aboar.



Corridinho chega ao céu,
Bate à porta pra entrar,
Corre S. Pedro a abrir,
Pró caminho lhe indicar.
Corre já pra'quela nuvem
Que é ali o teu lugar,
Pois no fim desta corrida
tens direito a descansar.
Corridinho, corridinho,
Lá vai ele a aboar.
Corridinho, corridinho,
Lá vai ele a aboar.


João Villaret

Sem comentários:

Enviar um comentário

Topo