No fundo de um poço
deitei a Alegria,
dizendo-lhe: “Espera
que volto
algum dia,
com louros e rosas,
Amor e Poesia.”
No fundo de um
poço
por que a deitaria?
Por que desprezava
sua companhia?
Pensei
que no mundo
tudo padecia.
Ai, como o pensava!
E não a queria.
No
fundo de um poço
deitei a Alegria.
Chegaram os tristes
por quem eu
sofria.
Consigo a levaram
- e de longe o via! -
Nunca perguntaram
a
quem pertencia.
Sofrer por sofrer,
somente eu sofria.
Os outros, -
apenas
querendo alegria.
À beira do poço
voltarei um dia.
Pousarei
meu rosto
na água negra e fria,
em ramos serenos
de Amor e
Poesia.
Direi meu segredo,
sem melancolia.
E na água
profunda,
sem noite nem dia,
eu mesma serei
minha companhia.
Eu quis
outra coisa
que ninguém queria.
Nem tenho saudade
da antiga Alegria.
Cecília Meireles
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