28/12/2024

O sentido secreto da vida - Helena Kolody





Há um sentido profundo
Na superficialidade das coisas,
Uma ordem inalterável
No caos aparente dos mundos.

Vibra um trabalho silencioso e incessante
Dentro da imobilidade das plantas:
No crescer das raízes,
No desabrochar das flores,
No sazonar das frutas.

Há um aperfeiçoamento invisível
Dentro do silêncio de nosso Eu:
Nos sentimentos que florescem,
Nas ideias que voam,
Nas mágoas que sangram.

Uma folha morta
Não cai inutilmente.
A lágrima não rola em vão.
Uma invisível mão misericordiosa
Suaviza a queda da folha,
Enxuga o pranto da face.


Helena Kolody
in Correnteza




22/12/2024

Para haver Natal este Natal





Talvez seja preciso reaprendermos
Coisas tão simples!

Que as mãos preocupadas com embrulhos
Esquecem outros gestos de amor,
Que os votos rotineiros que trocamos
Calam conversas que nos fariam melhor,
Que os símbolos apenas se amontoam
E soltam uma música triste
Quando já não dizem aquela verdade profunda!

Para haver Natal este Natal
Talvez seja preciso recordar
Que as vidas começam e recomeçam
E tudo isso é nascimento (logo, Natal)
Que as esperanças ganham sentido
Quando se tornam caminhos e passos.
Que para lá das janelas cerradas
Há estrelas que luzem
E há a imensidão do Céu.

Talvez nos bastem coisas
Afinal tão simples:
O alento dos reencontros autênticos;
A oração como confiança soletrada;
A certeza de que Jesus nasce em cada ano
Para que o nosso natal, alguma vez, esta vez, seja Natal!


Cardeal José Tolentino de Mendonça



15/12/2024

Participação no 4º Encontro Temático do BLOG do JUVENAL NUNES




Aceitando com muito prazer, o convite do Juvenal Nunes do Blogue “Palavras Aladas”, deixo a minha participação no 4º Encontro Temático, com o tema "Poema de Natal".




Na noite de Natal tão bela,
Brilha a paz no coração,
A esperança abre a janela,
Invade a casa em oração.

Sonhos dançam no ar,
Promessas de novo dia,
Estrelas vêm iluminar,
A noite cheia de magia.

Canta o vento melodias,
Sinos tocam a anunciar,
o nascimento do Messias,
Que vem o mundo iluminar.

Natal, tempo de renovar,
A Fé, esperança e o perdão,
De amar e de se entregar,
Enchendo a alma de gratidão.

Um abraço apertadinho,
um sorriso a brilhar,
um presente com carinho,
Momentos para celebrar.

Que o Natal seja canção,
De alegria e de bonança,
Ecoando em cada coração,
Harmonia, amor e esperança.


Que a magia do Natal ilumine TODOS os lares, e a paz reine em TODOS os corações.




Um feliz Natal


08/12/2024

XV Interação Fraterna de Natal 2024 da amiga Rosélia




Participando com muito prazer no convite da Amiga Rosélia do Blogue Espiritual Idade, deixo o meu modesto contributo nesta fraterna e bela interação de Natal.




O Tema deste ano é:

Se o Menino Deus Nascesse no Litoral



Se o Menino Deus nascesse no litoral,
Em vez de manjedoura, um berço de coral,
As ondas cantariam, belos hinos de amor,
E a brisa seria, seu delicado cobertor.

No céu, um farol seria a divina luz,
Guiando os pescadores ao Menino Jesus,
De muito longe viriam, para O adorar,
Desafiando sem medo, as ondas do mar.

Palmeiras ondulantes, estrelas a brilhar,
Alegres gaivotas, chegavam para O saudar,
E até o oceano, resplandecente dançaria,
Louvando o Natal, pleno de paz e alegria.

Nessa noite sagrada, cheia de magia,
Os anjos cantariam em doce harmonia,
E essa praia seria, um templo celestial,
Se o Menino Deus, nascesse no litoral.


Maria




Um Santo e Feliz Natal para TODOS


01/12/2024

Intimidade - José Saramago





No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.


José Saramago



24/11/2024

O Destino da Folha - Lausimar Laus





Irás... eu ficarei folha, sem dono,
Dispersa e então levada pelo vento,
Tu verás que ainda mesmo ao abandono
eu saberei calar o meu tormento.

E quando a folha morta, tão sem dono,
For levada daqui, num desalento,
Há de levar para velar-lhe o sono
A saudade de ti - único alento -

Hei de sonhar um turbilhão de versos...
E hei de juntar os que já estão dispersos
Como cinzas desfeitas sem calor...

E quando a primavera trouxer lírios,
Acenderei dois sonolentos círios.
E rezarei por ti, por nosso amor!


Lausimar Laus




17/11/2024

Auroras e Crepúsculos - Bernardina Vilar





Todo dia, na fimbria do horizonte
Surge a aurora num sonho embevecido;
Abre-se a flor que expande junto à fonte
Um perfume de amor apetecido.

Mas se o galho tristonho pende a fronte
Acobertando o ninho adormecido
No véu da noite, aconchegando o monte
Chega o crepúsculo em sombras envolvido.

Assim é a vida: flor desabrochada...
Imagem da esperança despertada
Da aurora à luz, de nívea claridade.

E como o berço onde adormece o dia,
No momento de paz da “Ave Maria”.
Esta vida é crepúsculo. É Saudade.


Bernardina Vilar




13/11/2024

Canção das Pedras - Ernani Rosas





Embrandecei pedras duras
À luz da Lua, no outono,
Quando tudo é só saudade
D'um coração ao abandono!...

Quando tudo é só doçura
E noite peninsular,
Quando ao longe, muito longe,
Choram guitarras ao mar.

E noites, onde marujos
Cantaram à luz do luar:
Saudosos da sua terra
Nas plagas além mar.

Embrandecei pedras duras!
Abri os olhos ceguinhos ...
Com que alegria as verei.
Estrelas, na noite escura!

A luz da lua no outono,
Quando alguém canta magoado
Cantigas de Amor passado
Alta noite... ao abandono!...


Ernani Rosas





10/11/2024

O que eu amo ... Zoraide Leonel Ferreira




 
Amo o silêncio dos lagos,
A viração das campinas,
Amo o céu, a paz dos ermos
E as estrelas peregrinas..

Amo a vida, o espaço, o sol,
A esperança que suponho
Ser minha eterna guarida
Nos trigais loiros do sonho..

Amo as aves intranquilas,
Nos bosques cantando amores,
Amo a linda primavera
Que traz sonhos, sons e flores..

Amo o remanso das noite,
A nostalgia do luar,
Também amo as pequeninas
Estrelas do teu olhar..


Zoraide Leonel Ferreira


03/11/2024

Sol Posto - Florbela Espanca




Sol posto. O sino ao longe dá Trindades
Nas ravinas do monte andam cantando
As cigarras dolentes... E saudades
Nos atalhos parecem dormitando...

É esta a hora em que a suave imagem
Do bem que já foi nosso nos tortura
O coração no peito, em que a paisagem
Nos faz chorar de dor e d'amargura...

É a hora também em que cantando
As andorinhas vão p'lo meio das ruas
Para os ninhos, contentes, chilreando...

Quem me dera também, amor, que fosse
Esta a hora de todas a mais doce
Em que eu unisse as minhas mãos às tuas!...


Florbela Espanca
In ‘O Livro D’ele’ (1915 – 1917)



27/10/2024

Traduzir-se - Ferreira Gullar





Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?


Ferreira Gullar
- In Toda Poesia



23/10/2024

Lágrimas Perdidas - Bernardina Vilar




Não consigo saber se alguém me ama,
Se acaso alguém merece este meu pranto;
Por mim não sei também se alguém derrama
Uma lagrima de amor que vale tanto!

E quanto mais o meu sofrer se inflama
Mais eu sinto o sabor do desencanto;
Quanto mais choro e a dor de mim se emana.
Mais me envolvo num doloroso encanto.

Chorar? Nem sei por quem! Só sei que choro!
E peço a Deus e a soluçar imploro
Que me diga se devo assim chorar...

E as minhas pobres lágrimas perdidas
Vão rolando talvez despercebidas
Porque afinal ninguém me sabe amar!


Bernardina Vilar
In ‘Bom dia, Saudade’ (1995)



20/10/2024

Voar - Maria Fernanda de Castro






Deve ser bom voar! Abrir as asas,
fechar os olhos e partir sem rumo,
pairar sobre as cidades, sobre as casas,
como pássaro, estrelas, nuvem, fumo...

Deve ser bom voar! Erguer os braços
e acima dos telhados e dos ninhos,
esquecer os sinais de inúteis passos,
fugir ao pó de todos os caminhos...

Mas onde as asas para assim voar,
para subir às nuvens e às estrelas?
As dos homens, são asas de matar...
...e as dos anjos, quem pode pretendê-las ?


Maria Fernanda Teles de Castro
em Trinta e Nove Poesias



16/10/2024

Um Silêncio bem silente





Sou escravo da palavra
Mas dono do meu silêncio.

De uma a outra alvorada
A palavra que foi dada
Necessita ser honrada
Por isto eu sou um escravo
De tudo que foi falado
E pra se evitar o pranto
Para a vida ser encanto
Criando um ambiente santo
É muito conveniente
Um silêncio bem silente.


Walter Dimenstein
Médico e poeta pernambucano



13/10/2024

A Casa do Coração - Friedrich Rückert





O coração tem dois quartos:
Moram ali, sem se ver,
Num a Dor, noutro o Prazer.

Quando o Prazer no seu quarto
Acorda cheio de ardor,
No seu, adormece a Dor...

Cuidado, Prazer! Cautela,
Canta e ri mais devagar...
Não vá a Dor acordar....


Friedrich Rückert
Tradução de Antero de Quental



10/10/2024

Caminho - Martha Medeiros





O caminho é este
tem pedra, tem sol
tem bandido, mocinho
tem você amando
tem você sozinho
é só escolher
ou vai, ou fica.

Fui…


Martha Medeiros
In Poesia Reunida




06/10/2024

Flores - Sophia de Mello Breyner






Era preciso agradecer às flores
Terem guardado em si,
Límpida e pura,
Aquela promessa antiga
Duma manhã futura.


Sophia de Mello Breyner



29/09/2024

Eu queria chorar pelos que não choram





Eu queria chorar pelos que não choram.
Eu queria chorar pelos olhos secos,
Pelos olhos que são fontes
Onde as mágoas se purificam e se libertam.

Eu queria chorar pelos corações feridos
E que sangram obscura e silenciosamente.
Eu queria chorar pelas almas mártires
Que estão invisivelmente entre nós.

Eu queria chorar pelos indiferentes
E pelos que escondem num sorriso
As decepções de uma incompreendida bondade.

Eu queria chorar pelas almas fechadas,
Pelas almas que são como os desertos
E que não conhecem a libertação das lágrimas!


Augusto Frederico Schmidt



22/09/2024

Rosas do Sul - Afonso Estebanez






Repousei minhas rosas andarilhas
numa ilha de agaves sem encanto
um deserto enfeitado de gravilhas
em vias de morrer de desencanto.

Com amor infinito a flor-do-campo
abraçou minhas rosas como filhas
do pólen que gerou o terno canto
do pranto ritmado em redondilhas.

Enquanto havia pausa obrigatória,
julgava que estivesse na memória
esse destino de seguir em frente.

Não só! Eu sou o espírito da rosa
que exalta essa paixão misteriosa
que por amor revive para sempre!


Afonso Estebanez




15/09/2024

Canção de inverno - Helena Kolody





Cai a neve, de mansinho...
Cai a neve em meus cabelos,
Que eram de ouro e são de luar.

Altas torres de castelo...
Cai a neve, de mansinho,
Para os sonhos sepultar.

Cai a neve... tão de leve!

No meu rosto, brando e brando,
Será a neve resvalando.
Ou é o pranto a deslizar?

Helena Kolody
Do livro Viagem no Espelho,




12/09/2024

O Tempo - Bernardina Vilar




Indomável, invencível, arrogante
Como um rio a correr vertiginoso
Não te condóis nem mesmo por instante
Aos clamores de um coração choroso.

Passageiro do mundo, incessante,
Num desafio bruto, desdenhoso,
Vais rasgando num gesto delirante
As entranhas da vida, impetuoso.

Conduzindo aos abismos do passado
Tudo quanto te surge no caminho,
Ó Tempo, não conheces a piedade!

Nada te faz parar. No triste fado
De não retroceder, seguir sozinho,
Só quem te faz deter é a Saudade.


Bernardina Vilar



08/09/2024

Refúgio das Mágoas - Euclides Cavaco





Meus olhos tristes chorando
Brotaram plangentes águas
Mas descobri que cantando
São mais suaves as mágoas!...

Toda a mágoa que na vida
Em silêncio é calada
É sempre mais dolorida
Por nunca ser revelada...

Se a vida fosse somente
Feita de dor e sofrer
Não havia certamente
Mera razão p'ra viver ...

As mágoas que alma sente
E a vida vão torturando
Têm refúgio, se a gente
Levar a vida cantando!...

Euclides Cavaco




01/09/2024

Visitas - Zoraida H.Guimarães





Bom-dia Tristeza!
Posso entrar?
Hoje vim com a Saudade
para te visitar...

Já que a Alegria viajou
depois que o Amor morreu,
viemos te visitar
querida amiga...

Visitar-me diz Tristeza,
não me diga...ora veja...
Enganaram-se com certeza,
Pois também estou de partida.
Vou morar com a Esperança
que ainda é minha amiga.


Zoraida H.Guimarães
In Na Passarela do Tempo



25/08/2024

Gaivota - Alexandre O'Neill





Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
morreria no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.


Alexandre O’Neill




Página: 1 de 3681234567...368Próxima
Topo