04/03/2018

Confissão - Poema de Carlos Drummond de Andrade




É certo que me repito,
é certo que me refuto
e que, decidido, hesito
no entra-e-sai de um minuto.

É certo que irresoluto
entre o velho e o novo rito,
atiro à cesta o absoluto
como inútil papelito.

É tão certo que me aperto
numa tenaz de mosquito
como é trinta vezes certo
que me oculto no meu grito.

Certo, certo, certo, certo
que mais sinto que reflito
as fábulas do deserto
do raciocínio infinito.

É tudo certo e prescrito
em nebuloso estatuto.
O homem, chamar-lhe mito
não passa de anacoluto.

 
Carlos Drummond de Andrade



3 comentários:

  1. OI MARIA@
    MAIS UMA OBRA MUITO BEM ESCOLHIDA NOS OFERECES.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  2. Boa noite Maria!
    Esse poema do Drummond é fascinante.
    Desculpa a ausência por aqui, minha pausa se esticou um pouco mais.
    Um abração, e boa semana!

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  3. Querida Maria
    Obrigada por nos presentear com tão belo poema!
    A imagem escolhida é lindíssima!
    Um beijinho
    Beatriz

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