25/07/2018

Eis a casa




Eis a casa - poema de Cecília Meireles



Eis a casa
menos que ar
imponderável,
no entanto é branca de camélia
e tem perfume de cal
Com seus corredores
O alpendre
As janelas uma a uma
Vê-se o mar. As montanhas. O trem passando
O gasómetro
Vêm-se as árvores por cima com suas flores
A casa imponderável
Mas de cimento madeira tijolos ferro vidro
A pintura prateada das grades cheira a óleo a fruta a luz
A água a pingar cheira a musgo,
soa metálica, trémula
insetos pássaros líquidos
pequenas estrelas
clarins muito longe
Peitoris gastos de braços antigos
Sombras de borboletas
Eu sei quem comprou a terra
quem pensou nos desenhos
quem carregou as telhas
Passam legiões de formigas pelos patamares
Eu sei de quem era a casa
quem morou na casa
quem morreu
Eu sei quem não pôde viver na casa
É uma casa
com seus andares
suas escadas
seus corredores
varandas
aposentos
alvenaria
muros
imponderável.
Uma casa qualquer.
Cruz que se carrega.
Imponderavelmente, para sempre, às costas.


Cecília Meireles


5 comentários:

  1. Hi Maria.

    Beautiful words at the beautiful house.

    Nice picture you have made.

    Groettie from Patricia.

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  2. Lindo poema de Cecília.
    Bjs

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  3. Oi Maria,
    Quebrei dois dedos
    Logo volto
    Beijos
    Lua Singular

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  4. La casa donde nace y terminan todas nuestras historias

    así la vida.

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