13/09/2025

Cheiro de Outono - Herman Hesse




Mais uma vez é um verão que nos abandona,
agonizando num temporal atrasado:
tranquila a chuva rumoreja, enquanto um cheiro
amargo e tímido vem do bosque molhado.

Na relva pálida a liliácea se retesa
em meio a grande profusão de cogumelos;
tem-se a impressão de que se esconde e se retrai
o nosso vale, ontem ainda imenso e belo.

Retrai-se e cheira a timidez e a amargura
o mundo, com toda a claridade perdida:
prontos, olhamos o temporal atrasado,
pois acabou-se o sonho de verão da vida!


Hermann Hesse
In Andares  



06/09/2025

Sorria - Charlie Chaplin




Sorria, embora seu coração esteja doendo
Sorria, mesmo que ele esteja partido
Quando há nuvens no céu
Você sobreviverá...
Se você apenas sorri
Com seu medo e tristeza
Sorria e talvez amanhã
Você verá o sol brilhando, para você

Ilumine sua face com alegria
Esconda todo rastro de tristeza
Embora uma lágrima possa estar tão próxima
Este é o momento que você tem que continuar tentando
Sorria, do que adianta chorar?
Você descobrirá que a vida ainda vale a pena
Se você apenas sorrir

Este é o tempo que você tem que continuar tentando
Sorria, do que adianta chorar?
Você descobrirá que a vida ainda vale a pena
Se você apenas Sorrir


Charlie Chaplin


"Smile" é a letra de uma canção baseada na música usada na trilha sonora do filme Tempos Modernos de Charlie Chaplin, de 1936 e cantada por Nat King Cole.



Letra Original

Smile, though your heart is aching
Smile, even though it's breaking
When there are clouds in the sky
You'll get by
If you smile through your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
You'll see the Sun come shining through, for you

Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear may be ever so near
That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you'll just smile

That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you'll just smile




30/08/2025

Flor de Esteva - Maria de Santa Isabel





Venho encontrá-la já quase a morrer,
A minha pobre "esteva do montado",
Que, antes, eu vira alegre, florescer,
Junto à "linda" riscado pelo arado!

Levei ao Casalinho de Bel Vêr
A rainha do grande descampado;
Mas ela não quis mais ali viver,
Sem "maios" e "roselas" ao seu lado

Falta-lhe o ardor do sol alentejano,
Aquela sombra amiga dos sombreiros...
Já não teve as "geadas" deste ano.

E morre de saudade e nostalgia,
Sem ter o barro e a cal por companheiros ,
Queimada pelo ar da maresia.


Maria de Santa Isabel
Maria Palmira Osório de Castro Sande Meneses e Vasconcellos Alcaide
In Flor de Esteva




24/08/2025

Celebrando o 16º Aniversário do Blog da amiga Rosélia 'Espiritual-Idade'




Participando com muito prazer na comemoração dos 16 anos, do poético e maravilhoso blog "Espiritual-Idade" da amiga Rosélia. O Tema proposto foi: "Máscaras Sociais", escolhendo a imagem 5.




Máscaras sociais: o que escondemos e o que revelamos


Vivemos num mundo onde as máscaras sociais são quase inevitáveis. Usamo-las para corresponder a expectativas, para proteger fragilidades, para nos adaptar a ambientes diferentes. Às vezes, a máscara é um sorriso forçado, um silêncio pesado, uma atitude que não traduz o que realmente sentimos.

Mas por detrás de cada máscara há sempre uma verdade. Há medos, inseguranças, sonhos calados, mas também uma essência que insiste em permanecer intacta. O perigo está em nos habituarmos tanto à máscara que acabamos por acreditar que ela é quem somos.

Ser verdadeiro, com ou sem máscara, é um ato de coragem. É permitir que os outros vejam não apenas a versão polida de nós mesmos, mas também as imperfeições que nos tornam humanos. É aceitar que a vulnerabilidade não nos diminui, pelo contrário, aproxima-nos uns dos outros.

As máscaras podem proteger, mas nunca devem substituir a autenticidade. Quando ousamos tirá-las, descobrimos que a beleza maior está em sermos inteiros, transparentes e livres. Porque a vida ganha mais sentido quando deixamos de representar e passamos a viver de verdade.





Querida amiga, Muitos Parabéns 🌺 🎈 🎁🎉 por mais este aniversário, que consigamos comemorar muitos e muitos mais anos, com alegria, companheirismo e amizade.




23/08/2025

Chuva Fina - Cecília Meireles





Chuva fina,
matutina,
manselinho orvalho quase:
névoa tênue sobre a selva,
pela relva,
desdobrada, etérea gaze.

Chuva fina,
matutina,
o pardal de húmidas penas,
a folhagem e a formosa
clara rosa,
sonham que és seu sonho, apenas.

Chuva fina,
matutina,
pelo sol evaporada,
como sonho pressentida
e esquecida
no clarão da madrugada.

Chuva fina,
matutina:
brilham flores, brilham asas
brilham as telhas das casas
em tuas águas velidas
e em teu silêncio brunidas...

Chuva fina,
matutina,
que te foste a outras paragens.
Invisível peregrina,
clara operária divina,
entre límpidas viagens.


Cecília Meireles
In Metal Rosicler




19/08/2025

As quatro canções que seguem - Fernando Pessoa





As quatro canções que seguem
Separam-se de tudo o que eu penso,
Mentem a tudo o que eu sinto,
São do contrário do que eu sou ...

Escrevi-as estando doente
E por isso elas são naturais
E concordam com aquilo que sinto,
Concordam com aquilo com que não concordam ...
Estando doente devo pensar o contrário
Do que penso quando estou são.
(Senão não estaria doente),
Devo sentir o contrário do que sinto
Quando sou eu na saúde,
Devo mentir à minha natureza
De criatura que sente de certa maneira ...
Devo ser todo doente — ideias e tudo.
Quando estou doente, não estou doente para outra coisa.

Por isso essas canções que me renegam
Não são capazes de me renegar
E são a paisagem da minha alma de noite,
A mesma ao contrário ...


Alberto Caeiro
(Heterónimo de Fernando Pessoa)
in o Guardador de Rebanhos



16/08/2025

Poema Azul - Sophia de Mello Breyner





O mar beijando a areia
O céu e a lua cheia
Que cai no mar
Que abraça a areia
Que mostra o céu
E a lua cheia
Que prateia os cabelos do meu bem
Que olha o mar beijando a areia
E uma estrelinha solta no céu
Que cai no mar
Que abraça a areia
Que mostra o céu e a lua cheia
um beijo meu


Sophia de Mello Breyner




09/08/2025

Hora pálida e branca - Anrique Paço D'Arcos





Hora pálida e branca, hora em que o dia
A pouco e pouco sai da sombra triste;
Hora em que o sol de longe principia
A inundar de luz tudo o que existe;

Hora branca do doce madrugar,
Hora em que a luz também toma essa cor,
Hora em que tudo acorda e a cantar
Também acorda em mim a minha dor;

Hora branca do doce alvorecer,
Hora da cor do sol que vai nascer
O seu manto de sombra a dissipar ...

Hora em que a treva aos poucos se levanta,
Hora em que a terra docemente canta,
Hora da vida toda a despertar!


Anrique Paço D'Arcos

(Henrique Belford Correia da Silva)
Em Poesia completa


02/08/2025

A vida está nos olhos de quem sabe ver - Gabriel García Márquez





“É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós: onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração; Pois a vida está nos olhos de quem sabe ver.”


Gabriel García Márquez



25/07/2025

Pérolas - Delores Pires





Pérolas de chuva
dançando serenas no ar
tombam sobre a terra.


Delores Pires
In O livro dos Haicais



19/07/2025

Voltei a ser Felizardo -Walter Dimenstein





O que a natureza dá
Certo dia vem cobrar
Subtraindo com certeza
Até traços da beleza
Inclusive a luz da mente
Que se apaga suavemente
Porém quando te encontrei
Uma luz nova eu ganhei
E de novo iluminado Voltei a ser felizardo.


Walter Dimenstein
Médico e poeta pernambucano




12/07/2025

Primavera - Maria de Santa Isabel





Quero-te bem, ó doce primavera,
Que vens encher de cor minha vida:
Minha irmã - alegria tão querida,
Meu ideal de sonho, de quimera!

Em mim, sentir-te sempre, quem me dera;
Adoro ver a terra assim florida,
Por esse teu aroma entontecida,
Toda vida, glicínias, folhas de hera.

Eu vou colher, além , nos olivais,
Madressilvas, roselas, lírios bravos,
A anémona, um lilás de tons ideais...

A primavera passa...mais um dia ...
E, sobre a mesa, vão murchando os cravos...
Como o Tempo esfolhou minha alegria!


Maria de Santa Isabel
(Maria Palmira Osório de Castro Sande Meneses e Vasconcellos Alcaide)
In Flor de Esteva



09/07/2025

Poema escrito no chão - Afonso Estebanez Stael





Nos reveses desta vida
o amor não sofre senão
quando a alma é ferida
nos espinhos da paixão.

A desculpa concedida
no revés da ingratidão
arrefece a dor sofrida
no perfume do perdão.

Vê o vôo nas planuras
do orgulho nas alturas
que inebria o coração...

Deus que deu à alma das rosas o luzir das cores
também deu por abundância o perfume às flores
que rastejam pelo chão...


Afonso Estebanez Stael



05/07/2025

Construção - Delores Pires




Sob o roseiral
tecem pétalas caídas
tapete de flores...



Delores Pires




29/06/2025

O bailado e as suas rendas - Rita de Cássia Alves






Músicas
fiam passos

em corpos que bailam.

Sabem-se artesanais,
entrelaçando

mãos e pés.

Na seda dos sentidos,
dançarinos tecem

o movimento.


Rita de Cássia Alves In Fios de Agora




24/06/2025

Participação no Dueto Amoroso 4 da amiga Rosélia




A minha participação no Dueto Amoroso 4 proposto pela querida amiga Rosélia, no seu maravilhoso blog " Amor Azul ". O Tema proposto para a quarta semana foi:






No peito um coração de pedra fria,
que o tempo moldou sem mais querer.
Mas nasce em silêncio a fantasia,
de um novo e doce amanhecer.

A alma, que andava adormecida,
ouve ao longe um canto de esperança.
O amor, que parecia sem vida,
renasce com a força de criança.

Mesmo a rocha, dura, indiferente,
se fende ao toque do sentir.
Pois no amor, suave e persistente,
há um lume que sabe resistir.

E o tempo, senhor de todo o ser,
cura a dor sem se fazer notar.
Traz à pedra o dom de entender
que o amor veio para ficar.




21/06/2025

Infância - Roseana Murray






Viver era para sempre
e o tempo uma coisa
redonda
ondulando feito céu e mar
o tempo não era
perigoso mistério
entranhas de uma caverna
o tempo simplesmente
não existia
do jeito que existe hoje
latejante urgente
irreversível.


Roseana Murray



14/06/2025

Antes ...





Antes que a tarde amanheça
e a noite vire dia
põe poesia no café
e café na poesia


Paulo Leminski
In Toda Poesia




08/06/2025

Guia-me a só razão - Fernando Pessoa





Guia-me a só a razão.
Não me deram mais guia.
Alumia-me em vão?
Só ela me alumia.

Tivesse quem criou
O mundo desejado
Que eu fosse outro que sou,
Ter-me-ia outro criado.

Deu-me olhos para ver.
Olho, vejo, acredito.
Como ousarei dizer:
"Cego, fora eu bendito"?

Como olhar, a razão
Deus me deu, para ver
Para além da visão
Olhar de conhecer.

Se ver é enganar-me,
Pensar um descaminho,
Não sei. Deus os quis dar-me
Por verdade e caminho.


Fernando Pessoa
in Cancioneiro




01/06/2025

Participação no Dueto Amoroso - 1 da amiga Rosélia




A minha participação no Dueto Amoroso proposto pela querida amiga Rosélia, no seu maravilhoso blog " Amor Azul ". O Tema proposto para a primeira semana foi: "Castelos"






Primavera no Castelo e no Coração

Num castelo entre as flores,
desabrocha a primavera,
nos jardins nascem amores
como luz de uma quimera.

O vento conta em segredo
uma história de ternura,
onde o amor vence o medo
com doçura e com candura.

Nas torres do velho forte,
beijos dançam sem cessar,
e o destino, em doce sorte,
ensina os corações a amar.

Que a primavera reine sempre no castelo do coração de todos nós




31/05/2025

Balança - José Saramgo




Com pesos duvidosos me sujeito
À balança até hoje recusada.
É tempo de saber o que mais vale:
Se julgar, assistir, ou ser julgado.
Ponho no prato raso quanto sou,
Matérias, outras não, que me fizeram,
O sonho fugidiço, o desespero
De prender violento ou descuidar
A sombra que me vai medindo os dias;
Ponho a vida tão pouca, o ruim corpo,
Traições naturais e relutâncias,
Ponho o que há de amor, a sua urgência,
O gosto de passar entre as estrelas,
A certeza de ser que só teria
Se viesses pesar-me, poesia.

José Saramago,
de Os poemas possíveis





24/05/2025

Crepúsculo - Delores Pires






Luz de fim do dia.
E a tua imagem flutua...
Vaga nostalgia!


Delores Pires
em "O Livro dos Haicais"





17/05/2025

Busca nova ilusão - Walter Dimenstein





Sempre alguma coisa fica
Dos nossos sonhos coloridos
Sonhos idos e vividos
Devidos ou indevidos
Resta uma saudade rica
Que empobrece a cada hora
Até que um dia vai embora
Pra longe sem deixar pistas
E o sofrido coração
Busca nova ilusão.


Walter Dimenstein
Homenagem ao médico e poeta pernambucano



13/05/2025

Reza da Manhã de Maio - Sophia de Mello Breyner Andresen





Senhor, dai-me a inocência dos animais
para que eu possa beber nesta manhã
a harmonia e a força das coisas naturais.

Apagai a máscara vazia e vã
de humanidade
apagai a vaidade,
para que eu me perca e me dissolva
na perfeição da manhã
e para que o vento me devolva
a parte de mim que vive
à beira dum jardim que só eu tive.


Sophia de Mello Breyner Andresen
do livro “Coral e outros poemas”




Topo