Não fora o mar,
e eu seria feliz na minha rua,
neste primeiro andar da minha casa
a ver, de dia, o sol, de noite a lua,
calada, quieta, sem um golpe de asa.
Não fora o mar,
e seriam contados os meus passos,
tantos para viver, para morrer,
tantos os movimentos dos meus braços,
pequena angústia, pequeno prazer.
Não fora o mar,
e os seus sonhos seriam sem violência
como irisadas bolas de sabão,
efémero cristal, branca aparência,
e o resto — pingos de água em minha mão.
Não fora o mar,
e este cruel desejo de aventura
seria vaga música ao sol pôr
nem sequer brasa viva, queimadura,
pouco mais que o perfume duma flor.
Não fora o mar
e o longo apelo, o canto da sereia,
apenas ilusão, miragem,
breve canção, passo breve na areia,
desejo balbuciante de viagem.
Não fora o mar
e, resignada, em vez de olhar os astros
tudo o que é alto, inacessível, fundo,
cimos, castelos, torres, nuvens, mastros,
iria de olhos baixos pelo mundo.
Não fora o mar
e o meu canto seria flor e mel,
asa de borboleta, rouxinol,
e não rude halali, garra cruel,
Águia Real que desafia o sol.
Não fora o mar
e este potro selvagem, sem arção,
crinas ao vento, com arreio,
meu altivo, indomável coração,
Não fora o mar
e comeria à mão,
não fora o mar
e aceitaria o freio.
Maria Fernanda Telles de Castro e Quadros
e eu seria feliz na minha rua,
neste primeiro andar da minha casa
a ver, de dia, o sol, de noite a lua,
calada, quieta, sem um golpe de asa.
Não fora o mar,
e seriam contados os meus passos,
tantos para viver, para morrer,
tantos os movimentos dos meus braços,
pequena angústia, pequeno prazer.
Não fora o mar,
e os seus sonhos seriam sem violência
como irisadas bolas de sabão,
efémero cristal, branca aparência,
e o resto — pingos de água em minha mão.
Não fora o mar,
e este cruel desejo de aventura
seria vaga música ao sol pôr
nem sequer brasa viva, queimadura,
pouco mais que o perfume duma flor.
Não fora o mar
e o longo apelo, o canto da sereia,
apenas ilusão, miragem,
breve canção, passo breve na areia,
desejo balbuciante de viagem.
Não fora o mar
e, resignada, em vez de olhar os astros
tudo o que é alto, inacessível, fundo,
cimos, castelos, torres, nuvens, mastros,
iria de olhos baixos pelo mundo.
Não fora o mar
e o meu canto seria flor e mel,
asa de borboleta, rouxinol,
e não rude halali, garra cruel,
Águia Real que desafia o sol.
Não fora o mar
e este potro selvagem, sem arção,
crinas ao vento, com arreio,
meu altivo, indomável coração,
Não fora o mar
e comeria à mão,
não fora o mar
e aceitaria o freio.
Maria Fernanda Telles de Castro e Quadros
Obrigada pela partilha deste fantástico poema! :))
ResponderEliminar.
Isto de ser Avó...é amar duplamente.
.
Beijos e um bom fim de semana
Boa noite de sábado, querida amiga Maria!
ResponderEliminarNão fora o mar, minha vida seria muito sem alegria.
Tenha um domingo abençoado!
Beijinhos com carinho de gratidão
Uma bela escolha Maria.
ResponderEliminarO mar com todos encantos e desencantos presente nas mais lindas poesias.
Grato.
Beijo de paz.
Bom domingo com belos olhares.
Impossível ficar indiferente à maestria deste poema, em que o mar surge como elemento fundamental de libertação e empolgamento.
ResponderEliminarAbraço amigo.
Juvenal Nunes
Poema lindíssimo com que nos presenteia hoje. E, por falar em mar, recordei-me do soneto de Manuel Bragança dos Santos -- "INSÓNIA", onde o mar está sempre presente.
ResponderEliminarINSÓNIA
Na luz do teu olhar jazem os dias
cobertos por um manto de luar
que terei só por ti de libertar
nas horas que me restam fugidias
no silêncio de noites tão sombrias
onde sinto a insónia crepitar
auroras de ternura junto ao mar
no delírio dos medos que tecias
Entre luz e sombra eu te persigo
sem ser eu nem ninguém em quanto digo
sem saber que fazer só porque sei
que sou tu desde quando te toquei
na alma em segredo como a praia
toca o mar sem que dele nunca saia
M. Bragança dos Santos - in "O Tempo e a Mácula" - 1998 (?!)
Abraço do Humberto Maranduva
Não fora o mar, a vida seria muito finita!
ResponderEliminarUm beijinho, Maria!
Megy Maia🌺🍀🍁
Hay tantas formas de ver el mar...ese que da y quita...fuente de vida y muerte
ResponderEliminarcomo el mar de toda vida!
Abrazo.
Olá, Maria,
ResponderEliminarpor sorte vim conhecer no seu blog esta poeta tão talentosa, Maria Fernanda Telles de Castro e Quadros. O poema aqui postado é de grande beleza. Sem dúvida uma poeta de grande valor. Agradeço, amiga, pela partilha.
Uma boa semana, com saúde e paz para toda a família.
Beijo
Gracias Maria por compartirnos este hermoso poema con ese bello paisaje marino. Un abrazo.
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