21/02/2018

Daí-me Rosas e Lírios - Poema de Fernando Pessoa





Dai-me rosas e lírios,
Dai-me flores, muitas flores
Quaisquer flores, logo que sejam muitas...
Não, nem sequer muitas flores, falai-me apenas

Em me dardes muitas flores,
Nem isso... Escutai-me apenas pacientemente quando vos peço
Que me deis flores...
Sejam essas as flores que me deis...

Ah, a minha tristeza dos barcos que passam no rio,
Sob o céu cheio de sol!
A minha agonia da realidade lúcida!
Desejo de chorar absolutamente como uma criança

Com a cabeça encostada aos braços cruzados em cima da mesa,
E a vida sentida como uma brisa que me roçasse o pescoço,
Estando eu a chorar naquela posição.

O homem que apara o lápis à janela do escritório
Chama pela minha atenção com as mãos do seu gesto banal.
Haver lápis e aparar lápis e gente que os apara à janela, é tão estranho!
É tão fantástico que estas coisas sejam reais!
Olho para ele até esquecer o sol e o céu.
E a realidade do mundo faz-me dor de cabeça.

A flor caída no chão.
A flor murcha (rosa branca amarelecendo)
Caída no chão...
Qual é o sentido da vida? 



Fernando Pessoa


2 comentários:

  1. Mais um blog seu que me encanta pela beleza, bom gosto, tanto das postagens como do layout desse espaço.
    Beijos carinhosos!

    ResponderEliminar
  2. Bom dia,. Fernando Pessoa um poeta exemplar. Melhor que ele ... só eu, lol
    .
    * Soneto escrito no escuro ... em versos de luz sombria *
    .
    Deixo um abraço amigo

    ResponderEliminar

Topo