04/02/2018

Cancão - Poema de Cecília Meireles




Assim moro em meu sonho:
como um peixe no mar.
o que sou é o que vejo.
vejo e sou meu olhar.


Água é o meu próprio corpo,
simplesmente mais denso.
E meu corpo é minha alma,
e o que sinto é o que penso.

Assim vou no meu sonho.
Se outra fui, se perdeu.
É o mundo que me envolve?
Ou sou contorno seu?

Não é noite nem dia,
não é morte nem vida:
é viagem noutro mapa,
sem volta nem partida.

Ó céu da liberdade,
por onde o coração
já nem sofre, sabendo
que bateu sempre em vão.


Cecília Meirelles ( Este poema pertence ao livro Canções - 1956)


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