04/05/2024

Poema de Manuel da Fonseca - Tejo que levas as águas





Tejo que levas as águas
Correndo de par em par
Lava a cidade de mágoas
Leva as mágoas para o mar

Lava-a de crimes espantos
De roubos fomes terror
Lava a cidade de quantos
Do ódio fingem amor

Lava bancos e empresas
Dos comedores de dinheiro
Que dos salários de tristeza
Arrecadam lucro inteiro

Lava palácios vivendas
Casebres bairros da lata
Leva negócios e rendas
Que a uns farta e a outros mata

Leva nas águas as grades
De aço e silêncio forjadas
Deixa soltar-se a verdade
Das bocas amordaçadas

Lava avenidas de vícios
Vielas de amores venais
Lava albergues e hospícios
Cadeias e hospitais

Afoga empenhos favores
Vãs glórias, ocas palmas
Leva o poder dos senhores
Que compram corpos e almas

Das camas de amor comprado
Desata abraços de lodo
Rostos corpos destroçados
Lava-os com sal e iodo

Tejo que levas as águas
Correndo de par em par
Lava a cidade de mágoas
Leva as mágoas para o mar.


Manuel da Fonseca,
Poemas para Adriano, 1972




3 comentários:

  1. Bom sábado de Paz, querida amiga Maria!
    Saudade do Tejo tão lindo.
    Leva nossa dor para longe...
    Tenha um final de semana abençoado!
    Beijinhos com carinho fraterno

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  2. Ao tempo que não lia este poema!
    Felizmente, o Tejo anda menos poluído...
    Gostei de ler Manuel da Fonseca. Um abraço
    ~~~

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  3. Belo poema. E daqui a duas horas saio do Mar Báltico e já estou com saudades, das ondas e do vento! Atenciosamente, Maria, tenha uma ótima semana nova.

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