Sou como um vale, numa tarde fria, 
Quando as almas dos sinos, de uma em uma, 
No soluçoso adeus da ave-maria 
Expiram longamente pela bruma.
É pobre a minha messe. É névoa e espuma 
Toda a glória e o trabalho em que eu ardia... 
Mas a resignação doura e perfuma 
A tristeza do termo do meu dia.
Adormecendo, no meu sonho incerto 
Tenho a ilusão do prémio que ambiciono: 
Cai o céu sobre mim em pirilampos...
E num recolhimento a Deus oferto 
O cansado labor e o inquieto sono 
Das minhas povoações e dos meus campos.
Olavo Bilac 
In ‘Tarde’ (1919)