31/05/2025

Balança - José Saramgo




Com pesos duvidosos me sujeito
À balança até hoje recusada.
É tempo de saber o que mais vale:
Se julgar, assistir, ou ser julgado.
Ponho no prato raso quanto sou,
Matérias, outras não, que me fizeram,
O sonho fugidiço, o desespero
De prender violento ou descuidar
A sombra que me vai medindo os dias;
Ponho a vida tão pouca, o ruim corpo,
Traições naturais e relutâncias,
Ponho o que há de amor, a sua urgência,
O gosto de passar entre as estrelas,
A certeza de ser que só teria
Se viesses pesar-me, poesia.

José Saramago,
de Os poemas possíveis





3 comentários:

  1. Sempre equilibrados, os pratos da balança serão seguros.
    José Saramago o diz entrelinhas.
    Grato pela escolha e partilha.


    Beijo,
    SOL da Esteva

    ResponderEliminar
  2. Querida amiga Maria, ser medido pela poesia é de bom tom. Pouco fazemos pela vida afora, mas a poesia faz muito por nós.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos fraternos de paz

    ResponderEliminar
  3. Es bueno poder sopesar lo que se ha realizado...lo que hemos entregado en la palabra.
    Abrazo.

    ResponderEliminar

Topo