27/02/2021

As flores do jacarandá - Poema de Matilde Rosa Araújo




O jacarandá florido
Brando cantar trazia
Branda a viola da noite
Branda a flauta do dia

O Jacarandá florido
Brando cantar trazia
O vinho doce da noite
A água clara do dia

Quem o olhava bebia
Quem o olhava escutava
O jacarandá florido
Que o silêncio cantava


Matilde Rosa Araújo




20/02/2021

Poema Canção ao Mar (Mar Eterno) - Eugénio Tavares




Oh mar eterno sem fundo,
Sem fim
Oh mar de túrbidas vagas,
Oh mar!
De ti e das bocas do mundo
A mim
Só me vem dores e pragas,
Oh mar!

Que mal te fiz,oh mar, oh mar
Que ao ver-me pões-te a arfar, a arfar
Quebrando as ondas tuas
De encontro às rochas nuas

Suspende a zanga um momento
Escuta
A voz do meu sofrimento
Na luta
Que o amor acende em meu peito
Desfeito
De tanto amar e penar, oh mar!

Que até parece oh mar, oh mar
Um coração a arfar, a arfar
Em ondas pelas fráguas
Quebrando as suas máguas
Dá-me notícias do meu amor, Amor
Que um dia os ventos do céu, Oh dor!
Nos seus braços furiosos
Levaram
E ao meu sorriso, invejosos,
Roubaram

Não mais voltou ao lar, ao lar
Não mais o vi oh mar, oh mar
Mar fria sepultura
Desta minha alma escura

Roubaste-me a luz querida
Do amor,
E me deixaste sem vida
No horror
Oh alma da tempestade
Amansa,
Não me leves a saudade
E a esperança

Que esta saudade, é quem, é quem
Me ampara tão fiel, fiel
É como a doce mãe
Suavíssima e cruel

Mas mágoas

desta aflição
Que agita
Meu infeliz coração,
Bendita,
Bendita seja a esperança
Que ainda
Lá me promete a bonança
Tão linda!


Eugénio  Tavares


13/02/2021

O Segredo é Amar



O segredo é amar. Amar a Vida
com tudo o que há de bom e mau em nós.
Amar a hora breve e apetecida,
ouvir os sons em cada voz
e ver todos os céus em cada olhar.

Amar por mil razões e sem razão.
Amar, só por amar,
com os nervos, o sangue, o coração.
Viver em cada instante a eternidade
e ver, na própria sombra, claridade.

O segredo é amar, mas amar com prazer,
sem limites, fronteiras, horizonte.
Beber em cada fonte,
florir em cada flor,
nascer em cada ninho,
sorver a terra inteira como o vinho.

Amar o ramo em flor que há-de nascer,
de cada obscura, tímida raiz.
Amar em cada pedra, em cada ser,
S. Francisco de Assis.

Amar o tronco, a folha verde,
amar cada alegria, cada mágoa,
pois um beijo de amor jamais se perde
e cedo refloresce em pão, em água!


Maria Fernanda Teles de Castro e Quadros Ferro




06/02/2021

O fardo da Solidão




Há dias em que sentimos com mais intensidade o fardo da solidão.
À medida que nos elevamos, monte acima, no desempenho do próprio dever, experimentamos a solidão dos cimos e uma profunda tristeza nos dilacera a alma sensível.
Onde se encontram os que sorriam connosco no parque primaveril da primeira mocidade?
Onde pousam os corações que nos buscavam no aconchego das horas de fantasia?
Onde se acolhem aqueles com quem partilhávamos o pão e o sonho, nas aventuras felizes do início?


Por certo, ficaram...
Ficaram no vale, voando em círculo estreito, à maneira das borboletas douradas, que se esfacelam ao primeiro contacto da menor chama de luz que se lhes descortine à frente.
Em torno de nós, a claridade, mas também o silêncio...
Dentro de nós, a felicidade de saber, mas igualmente a dor de não sermos compreendidos...
Nossa voz grita sem eco e o nosso anseio se alonga em vão.
Entretanto, se realmente subimos, que ouvidos nos poderiam escutar a grande distância e que coração faminto de calor do vale se abalançaria a entender, de pronto, os nossos ideais de altura?
Choramos, indagamos e sofremos... 
Contudo, que espécie de renascimento não será doloroso?
A ave, para libertar-se, destrói o berço da casca em que se formou, e a semente, para produzir, sofre a dilaceração na cova desconhecida.
A solidão com o serviço aos semelhantes gera a grandeza.
A rocha que sustenta a planície costuma viver isolada e o sol que alimenta o mundo inteiro brilha sozinho.



Não nos cansemos de aprender a ciência da elevação.
Lembremo-nos do Senhor Jesus que escalou o Calvário, com a cruz aos ombros feridos. Ninguém O seguiu na morte afrontosa, à excepção de dois malfeitores, constrangidos à punição, em obediência à justiça.
Não relacionemos os bens que, porventura, já houvermos espalhado.
Confiemos no infinito bem que nos aguarda.
Não esperemos pelos outros, na marcha de sacrifício e engrandecimento.
E não nos esqueçamos que, pelo ministério da redenção que exerceu para todas as criaturas, o Divino Amigo da Humanidade não somente viveu, lutou e sofreu sozinho, mas também foi perseguido e crucificado.
O sacrifício na cruz é a mais bela lição de resignação que o Mestre nos legou.
Sem nenhuma imposição conclamou-nos: Quem quiser vir após Mim, tome a sua cruz, negue a si mesmo e siga-Me.
O que equivale a dizer que tomemos a cruz dos nossos sofrimentos com abnegação, e escalemos a montanha da ascensão espiritual, confiantes Naquele que nos fez o convite.
E, embora com os pés sangrando, ao chegarmos no topo do monte, depararemos com a planície florida e a estrada iluminada que nos conduzirá ao Mestre.
Recordemo-Lo portanto, e sigamo-Lo... 




Texto do SITE: Momento de Reflexão
Imagens: Pessoais


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