29/10/2022

Longos Passos





Sente-se na vidraça da alma
uma ténue luz e sombra
de velhos fantasmas
habitantes de nossas horas.

Sente-se a solitária solidão
a verter lágrimas
quando a hora tornou-se escrava
dos pensamentos.

Sente-se a voz fugidia e quente
das noites abandonadas
a falarem com ventos quebrados
quando o relógio apressou-se demais.

Sente-se a vida galopando
e a imitar andorinhas
que escondem seus olhos
porque fingem que não sentem
a vida passando . . .


Alvina Nunes Tzovenos
De Palvras ao Vento




22/10/2022

O Tempo não sabe nada - POEMA de Jorge Manuel de Abreu Palma




o tempo não sabe nada
o tempo não tem razão
o tempo nunca existiu
é da nossa invenção

se abandonarmos as horas para nos sentirmos sós
meu amor o tempo somos nós

o espaço tem o volume
da imaginação
além do nosso horizonte
existe outra dimensão

o espaço foi construído sem princípio nem fim
meu amor tu cabes dentro de mim

o meu tesouro és tu
eternamente tu
não há passos divergentes para quem se quer encontrar

a nossa história começa
na total escuridão
onde o mistério ultrapassa
a nossa compreensão
a nossa história é o esforço para alcançar a luz
meu amor o impossível seduz

o meu tesouro és tu
eternamente tu
não há passos divergentes para quem se quer encontrar


Jorge Manuel de Abreu Palma





14/10/2022

Infância - Cecília Meireles




Levaram as grades da varanda
Por onde a casa se avistava.
As grades de prata.

Levaram a sombra dos limoeiros
Por onde rodavam arcos de música
E formigas ruivas.

Levaram a casa de telhado verde
Com suas grutas de conchas
E vidraças de flores foscas.

Levaram a dama e o seu velho piano
Que tocava, tocava, tocava
A pálida sonata.

Levaram as pálpebras dos antigos sonhos,
Deixaram somente a memória
E as lágrimas de agora.


Cecília Meireles
In Retrato Natural



07/10/2022

Destinos - Poema de Alvina Nunes Tzovenos





E as naves partiram
levando rumos desiguais.

Era noite
e os barcos não vinham.

Havia um regresso de vozes
e um peso de solidão grunhindo no ar.

A manhã custava a se fazer
era um parto demorado
com manchas douradas
que anunciavam um novo ser.

Os campos choravam de bênçãos
e, o ar doce, feria de odores
as narinas da manhã já desperta.

Ouvia-se a vida
no amor das flores, no sabor das cores e no odor
das horas que se assenhoreavam.

. . . éramos nós que amanhecíamos
. . . éramos nós que amávamos
amávamos o amor da Vida!


Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo





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