Aqui sobre a noite,
na cinza das pálpebras,
no meio das rosas,
no sono das aves,
nas franjas da lua,
nas imóveis águas,
aqui, sobre a ténue
seda da saudade,
a perpétua face.
Sozinha contemplo
o ardente milagre.
Ninguém mais te avista,
Verónica suave!
-Desenho do sonho
que a noite reparte.
Por que me apareces
igual à verdade,
ilusória imagem?
Na minha alegria,
corre um mar de lágrimas.
Tudo se repete,
na terra e nos ares,
e os meus pensamentos
são só teu retrato.
Em puro silêncio,
luminosa jazes:
tão doce e tão grave!
Fita bem meu rosto,
guarda os olhos pálidos
com rios antigos
por onde viajaste.
Lembra-te da minha
sombra humana, diáfana,
-pode ser que um dia
todos nós passemos
pela Eternidade.
Cecília Meireles
na cinza das pálpebras,
no meio das rosas,
no sono das aves,
nas franjas da lua,
nas imóveis águas,
aqui, sobre a ténue
seda da saudade,
a perpétua face.
Sozinha contemplo
o ardente milagre.
Ninguém mais te avista,
Verónica suave!
-Desenho do sonho
que a noite reparte.
Por que me apareces
igual à verdade,
ilusória imagem?
Na minha alegria,
corre um mar de lágrimas.
Tudo se repete,
na terra e nos ares,
e os meus pensamentos
são só teu retrato.
Em puro silêncio,
luminosa jazes:
tão doce e tão grave!
Fita bem meu rosto,
guarda os olhos pálidos
com rios antigos
por onde viajaste.
Lembra-te da minha
sombra humana, diáfana,
-pode ser que um dia
todos nós passemos
pela Eternidade.
Cecília Meireles