27/05/2022

Rosas - Poema de Florbela Espanca




Rosa! És a flor mais bela e mais gentil
Entre as flores que a Natureza encerra;
Bendito sejas tu, ó mês d’Abril
Que de rosas inundas toda a terra!

Brancas, vermelhas ou da cor sombria
Do desespero e do pesar mais fundo,
Sois símbolos d’amor e d’alegria
Vos sois a obra-prima deste mundo!

Ao ver-vos tão bonitas, tão mimosas
Esqueço a minha dor, minha saudade
Pra sô vos contemplar, ó orgulhosas.

Eu abençoo então a Natureza,
E curvo-me ante vos com humildade
Ó rainhas da graça e da beleza!


Florbela Espanca




21/05/2022

Garras dos Sentidos - Poema de Agustina Bessa-Luís




Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos,
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.

São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas,
não quero cantar amores.

Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.

São demências dos olhares,
Alegre festa de pranto,
São furor obediente,
São frios raios solares.

Dá má sorte defendidos
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.

Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos.


Agustina Bessa-Luís


14/05/2022

Depois de um certo tempo




Depois de algum tempo você aprende a diferença,
a subtil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma,

E você aprende que amar não significa apoiar-se
e que companhia nem sempre significa segurança,

E você começa a aprender que beijos não são contratos
e que presentes não são promessas.

E você começa a aceitar as suas derrotas
com a cabeça erguida e olhos adiante,
com a graça de uma mulher e não com a tristeza de uma criança.

E você aprende a construir todas as suas estradas no hoje,
porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos,
e os futuros costumam cair no meio do voo.

Depois de um tempo você aprende
que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.

Então você planta seu próprio jardim e decora a sua própria alma
em vez de esperar que alguém lhe traga flores.

E você aprende que você realmente pode resistir
que você é realmente forte
e que você realmente tem valor
E você aprende e aprende
com cada adeus você aprende ...


Verónica A. Shoffstall
Escrito aos 19 anos, no seu livro de formatura da escola, ao terminar o highschool




After a while

After a while you learn the subtle difference
between holding a hand and chaining a soul
And you learn that love doesn’t mean leaning
and company doesn’t mean security.
And you begin to learn that kisses aren’t contracts
and presents aren’t promises
And you begin to accept your defeats
with your head up and your eyes ahead
with the grace of a woman, not the grief of a child
And you learn to build all your roads on today
because tomorrow’s ground is too uncertain for plans
and futures have a way of falling down in mid-flight.

After a while you learn that even sunshine burns
if you get too much.

So you plant your own garden and decorate your own soul
instead of waiting for someone to bring you flowers.

And you learn that you really can endure
that you really are strong
and that you really do have worth
And you learn and you learn
with every goodbye you learn...


By Verónica A. Shoffstall




Este poema existe na Net com várias versões e atribuído erradamente a William Shakespeare



07/05/2022

Soneto da Saudade - Afonso Estebanez




Em minh’alma chove tanto
que não há como esconder
entre os olhos tanto pranto
que meu pranto faz chover...

Por encanto ou desencanto
em minh’alma é anoitecer
com saudade do teu canto
no encanto do amanhecer...

Num jardim sem claridade
mora em mim tua saudade
com o meu modo de viver...

E a saudade não consegue
esquecer que me persegue
para eu nunca te esquecer...


Afonso Estebanez



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