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12/05/2019

Não Sei Quantas Almas Tenho - Fernando Pessoa



Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que só gue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.


Fernando Pessoa



4 comentários:

  1. Tampouco sei quantas Almas há em cada Ser.
    Bom trazeres esta lembrança.


    Beijo
    SOL

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  2. Extraordinário, este poema de Pessoa, a reflectir o seu permanente "Desassossego", o seu universo clivado, encriptado pela sua consciência dispersa. Por isso ele foi grande, através dos seus heterónimos (alteregos), por via do desdobramento do seu corpo e do seu sentir perturbado. Não há grandes poetas sem grandes augústias.
    Gostei muito da sua opção.
    Uma boa semana.

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  3. Um belo poema voltado para o Eu interior. Bjinhos e feliz semana

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